Code: 20074296
António Rodrigues foi o primeiro arquitecto portugu?s de basecientífica. Outros se destacaram na geraç?o de quinhentos, mas foiRodrigues, um leitor crítico dos conceitos formulados nos tratadosmaneiristas que correram na sua época ... more
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António Rodrigues foi o primeiro arquitecto portugu?s de basecientífica. Outros se destacaram na geraç?o de quinhentos, mas foiRodrigues, um leitor crítico dos conceitos formulados nos tratadosmaneiristas que correram na sua época, a propor o primeiro tratado dearquitectura de autor escrito em portugu?s. Organizou os princípios de uma sintaxe clássica erudita submetida ao controle da composiç?o pela raz?o, colocando o rigor geométrico e a express?o do essencial acimados efeitos decorativos que t?o fortemente caracterizaram a épocaanterior. Além de que continua a ser apontado como o autor de uma dasmais maravilhosas obras da arquitectura ocidental, a capela das OnzeMil Virgens anexa ? igreja do convento franciscano de Santo António em Alcácer do Sal. Em Portugal, como em outros estados da Europamediterrânica, a progressiva consolidaç?o de um sistema políticoassente na gest?o centralizada da coisa pública sob a autoridade dorei, favoreceu a solidez da monarquia católica e levou a que aproduç?o arquitectónica integrasse com o mesmo peso os monumentosreligiosos sempre sob patrocínio régio e as outras iniciativas denatureza civil imbuídas da mesma preocupaç?o de conferir dignidade aoestado. Nas primeiras décadas do ciclo edificatório empreendido pelamonarquia burguesa, foram os construtores integrados no sistemaprodutivo medieval que sob tutela dos príncipes deram corpo ao desejode edificar. Depois surgiram estudiosos intelectuais a dar outro rumo? arquitectura. De António Rodrigues quase nada se sabe. Homem queescondeu a sua personalidade na discreta maneira de se relacionar coma aristocracia do poder a que de algum modo pertencia, escreveu sobrea ci?ncia e por de trás dela se escondeu. Durante vinte e cinco anosfoi o principal responsável pelas obras da casa real, atravessando oconturbado período político que vai desde o sebastianismo até ?integraç?o do país no império de Filipe II. Serviu D. Sebasti?o, osregentes e depois o próprio Filipe durante dez anos. Mas é possível, a pretexto do levantamento deste personagem, traçar um cenário daintroduç?o da arquitectura do renascimento entre nós pelo recurso ?interpretaç?o de algumas arquitecturas e enquadramento dos seusautores, de modo a compreender o movimento colectivo na cultura emgeral e nas artes em particular, que conduziu a sociedade portuguesano século de quinhentos. Adquirindo a compet?ncia do risco e o manejorigoroso da perspectiva, ganharam os especialistas da ideia saber eprestígio, superando a autoridade dos senhores do mando, porque erameles os especialistas na cultura antiga, na arte do simbólico e no uso dos correspondentes instrumentos do saber fazer. É esse o verdadeiromomento da mudança. No período de transiç?o podemos encontrar bispos e príncipes desejando ardentemente ser arquitectos, viajando, comprando livros, escrevendo cartas de intenç?o com discurso estético. Masfaltou-lhes o tempo necessário para o exercício do desenho, para aprática reflectida da transposiç?o da ideia ao risco operativo.Faltou-lhes, afinal, escolher o caminho entre o profissional da artede dedicaç?o independente e o político comprometido com as raz?es doEstado. Restou aos príncipes promover os seus artistas de confiançaaos títulos da nobreza pelas raz?es da arte, tomando-os como espelhoda sua própria personalidade. Ou encontrar um verdadeiro fidalgo commais ânimo para a ci?ncia do risco do que para as praticas dacavalaria, como aconteceu com António Rodrigues.
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